O chá literário

O chá literário

 

O local é uma réplica do palácio Petit Trianon, de Versailles, gentilmente doada pelo governo francês em 1923 e está localizado no centro do Rio de Janeiro. Antes da pandemia, todas as quintas-feiras, às 15h, os imortais da Academia Brasileira de Letras (ABL) se reuniam em volta da farta mesa preparada com deliciosos acepipes para desfrutar do chá em companhia de alguns dos maiores ícones da literatura brasileira e mundial.

 

 

A Academia foi fundada em 1897, com dezesseis acadêmicos (hoje são quarenta) e seu primeiro presidente foi, nada mais nada menos, que o gigante Machado de Assis. O escritor era cliente assíduo das grandes confeitarias da cidade que reuniam nobres, intelectuais, autoridades e a sociedade carioca. Machado gostava de sentar-se com o seu jornal e observar o teatro humano que ali se desenrolava à sua frente. Registrou como nenhum outro autor a evolução da elite brasileira e os seus rituais sociais e gastronômicos. A expressão “Rio de Machado” expressa a forte ligação do maior nome da literatura brasileira com o Rio de Janeiro, cidade onde viveu toda a sua vida.

 

 

Abaixo, o seu discurso na sessão inaugural da Academia:

 

20 de julho de 1897

Senhores,

Investindo-me no cargo de presidente, quisestes começar a Academia Brasileira de Letras pela consagração da idade. Se não sou o mais velho dos nossos colegas, estou entre os mais velhos. É simbólico da parte de uma instituição que conta viver, confiar da idade funções que mais de um espírito eminente exerceria melhor. Agora que vos agradeço a escolha, digo-vos que buscarei na medida do possível corresponder à vossa confiança.

Não é preciso definir esta instituição, iniciada por um moço, aceita e completada por moços, a Academia nasce com a alma nova, naturalmente ambiciosa. O vosso desejo é conservar, no meio da federação política, a unidade literária. Tal obra exige, não só a compreensão pública, mas ainda e principalmente a vossa constância. A Academia Francesa, pela qual esta se modelou, sobrevive aos acontecimentos de toda casta, às escolas literárias e às transformações civis. A vossa há de querer ter as mesmas feições de estabilidade e progresso. Já o batismo das suas cadeiras com os nomes preclaros e saudosos da ficção, da lírica, da crítica e da eloquência nacionais é indício de que a tradição é o seu primeiro voto. Cabe-vos fazer com que ele perdure. Passai aos vossos sucessores o pensamento e a vontade iniciais, para que eles o transmitam aos seus, e a vossa obra seja contada entre as sólidas e brilhantes páginas da nossa vida brasileira. Está aberta a sessão.

 

Fontes: Revista Gula, agosto de 2007.
Machado de Assis, Relíquias Culinárias, Rosa Belluzzo, Ed. Unesp.

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